quinta-feira, 24 de abril de 2008

Estratégias da Revolução: vanguarda e movimento estudantil em 1968


por Luís Siebel e Paulo Matos

No pré-64, a hegemonia política no movimento estudantil era partilhada pelas correntes que defendiam o nacionalismo burguês, apoiando-se nas juventudes católicas (Ação Popular - AP) e no PCB, que defendia o "socialismo por vias pacíficas"; apoiavam assim o projeto desenvolvimentista de Goulart. Após o golpe, segue-se uma derrota que logo dá lugar a um ciclo ascendente de lutas estudantis até 68 com grandes manifestações de massa, sendo fechado pelo "golpe dentro do golpe" com o AI-5 e a ascensão de Médici.
As direções políticas ligadas ao PCB e ao janguismo, após o golpe, concluíram que a derrota havia se dado em função do pacifismo do PCB e passaram a ser progressivamente influenciados pelo militarismo guerrilheiro que emanava das revoluções cubana e chinesa. O PCB perdeu toda a sua expressão política na vanguarda e uma das tentativas de "corrigir" os erros foi definida pela "luta de massas" contra a ditadura1; na verdade era uma nova sinalização para os setores "democráticos" da burguesia a resistir pacificamente (MDB) e traduzida para o movimento operário e estudantil como lutar dentro da "legalidade da ditadura", aceitando a intervenção nos sindicatos e a lei Suplicy2, conciliando com os "pelegos" (agentes da ditadura) etc.
Em 1967, numa reunião clandestina da UNE, debatiam-se as duas principais tendências do m.e., a AP e o bloco das Dissidências do PCB (DIs) com a Polop: "Ao referir-se à situação nacional, tanto uma como a outra das cartas da UNE atribuíam a vitória da direita, em abril de 1964, às ‘ilusões reformistas’ que levaram o movimento popular a acreditar nas modificações parciais e pacíficas, com base na falaciosa suposição de que a burguesia brasileira tivesse interesses contraditórios com o imperialismo’"3 Um outro ponto era "consenso", mas não mero detalhe: "Os estudantes não tem condições, por si sós, de colocar em xeque o regime"4.
Um dos grandes debates da época se resumia à política da então corrente majoritária do m.e., a AP, que defendia a radicalização (os fatos políticos) em oposição às "lutas específicas", bandeira das DIs-Polop: "A ditadura havia posto os partidos na ilegalidade e cassado os políticos. Estes não tinham sido capazes de criar uma oposição; tentaram com a Frente Ampla mas não deu certo, de uma só canetada os militares acabaram com ela. Por isso o m.e. representava para a sociedade a grande referência política contra a ditadura, e por isso a AP começou a sonhar em derruba-la com o MCD5, a partir da pressão das faculdades."6
A primeira influência assimilada pela AP até 67 foi o foquismo, o que levava a desvalorizar a importância das reivindicações que poderiam mobilizar a massa dos estudantes e os levariam a se aliar com a classe operária, como a luta pela democratização do acesso à universidade contraposta aos acordos da ditadura entre o MEC e o USAID; - expressava uma concepção de que o m.e., por si mesmo, poderia derrubar a ditadura.
Nesse sentido, até 67 a linha predominante nas DIs de "ir às faculdades" expressava uma posição correta de contrapor o vanguardismo à necessidade de mobilizar as massas, ainda que também expressava certa vacilação e influência do pacifismo-reformismo do PCB. No curso da luta, o bloco DIs-Polop desenvolveu e consolidou tendências foquistas e guerrilheiras: "É necessário aproveitar a massa avançada , que participa de todas as manifestações do m.e. para fazer propaganda de uma organização clandestina
no nível do m.e." 7. De tal modo, o bloco DIs-Polop, no decorrer de 67-68, tendeu a transformar algumas de suas práticas estudantis em ensaios para a preparação de formas vanguardistas e militaristas.

Estratégias da revolução: "Nada mais vamos esperar"
Contraditoriamente, o "corte estratégico" produzirá na AP o efeito oposto. Enquanto o bloco DIs-Polop rumará para a concepção foquista, a AP passará por um processo que a ligou ao PC Chinês e a transformou em maoísta; passando a defender a "guerra popular prolongada" baseada num partido-exército de massas camponesas em detrimento do vanguardismo militar típico do foquismo cubano, segundo a concepção de Mao de que a política subordina o militar. Essa "inversão de papéis" entre a AP e as DIs-Polop foi uma das marcas fundamentais do debate que se fazia na vanguarda.
Marighella, histórico membro do PCB , que nesse período liderou a fundação da ALN, dissidência mais forte do PC e que tinha maior peso entre as DIs do m.e., passou a defender que "a guerrilha incorporou-se definitivamente à vida dos povos como a própria estratégia de sua libertação, o caminho fundamental, e mesmo único, para expulsar o imperialismo e destruir as oligarquias, levando as massas ao poder. Tal formulação do problema, como seja o do papel estratégico da guerrilha, não surgiu casualmente e sim porque a revolução cubana o introduziu no cenário da história"8.
Ainda mais extremadas eram as definições da VAR-Palmares: "o regime militar significou ‘o fim da era política’ e, portanto, ‘estão fechadas as portas para um trabalho legal, de longa duração, visando educar a classe operária’"9. Esse exemplo era expressão da vulgarização militarista extremada que fazia Debray das concepções de Che Guevara.
A ruptura com o pacifismo do PCB não significava uma crítica à estratégia de conciliação de classes. Pelo contrário, é uma crítica ao "socialismo por vias pacíficas" que passa a hegemonizar os PCs após o XX Congresso do PCUS em 1956, mas que se limita a retomar as velhas concepções etapistas levadas à frente pelas revoluções cubana, chinesa, vietnamita e anti-coloniais na África, sem tirar as lições necessárias da dinâmica tomada dessas revoluções. Daí que a mudança dos métodos "pacifistas-reformistas" para os métodos "militaristas-guerrilheiros" não foi acompanhada pela mudança da estratégia de conciliação de classes para uma estratégia de independência política em relação à burguesia.
Por sua vez, a Polop expressava a influência de idéias trotskistas que já tinha desde antes do golpe, combatia a noção de uma "burguesia progressista" como sujeito de uma "primeira etapa" da revolução, de caráter "democrático e antiimperialista"; suas teses não assumiram expressão de massa, mas sua influência ideológica nas correntes do m.e. gerava nas direções estudantis uma desconfiança muito maior em relação a "setores progressistas" da burguesia do que tinham as direções das organizações políticas que estas representavam em seu conjunto.
Só uma estratégia bolchevique, que preparasse pacientemente a insurreição armada das massas proletárias em aliança com os camponeses pobres, que lutasse pela expropriação da burguesia e do latifúndio, seria realmente capaz de derrubar a ditadura responder às demandas das massas exploradas e oprimidas pelo capitalismo. Para levar a cabo essa estratégia, era imprescindível a construção de um partido revolucionário da vanguarda operária, democraticamente centralizado, organicamente ligado às massas, em combate contra as estratégias etapistas e guerrilheiras que não podiam mais que levar à o movimento de 1968 no Brasil à derrota; ou que geraram revoluções deformadas como a cubana e a chinesa que, mesmo tendo expropriado a burguesia a partir de uma enorme conquista revolucionária das massas, terminaram constituindo Estados operários degenerados que posteriormente deram lugar à restauração do capitalismo.
A ausência da de uma "estratégia bolchevique" levou a que os setores mais avançados do m.e. da época, que demonstravam uma heróica abnegação e combatividade ao preferirem militar clandestinamente e correr o risco da tortura e do assassinato ao invés de desfrutar das benesses do consumismo proporcionado pelo "milagre brasileiro" que cooptava em massas as classes médias", não fossem capazes de forjar uma aliança sólida e duradoura com os setores do movimento operário que iniciavam um processo de auto-organização em comissões de fábricas e oposições sindicais contra os pelegos da ditadura, tendo sua expressão mais aguda nas grandes greves de Osasco e Contagem. Pelo contrário, levou a que estes setores do m.e. se isolassem nas guerrilhas que foram massacradas pela ditadura. O próprio José Ibrahim, presidente do sindicado de Osasco na época, assim avalia ou erros cometidos: "Na minha opinião o que destruiu mesmo a organização interna nas fábricas de Osasco foi a política das organizações armadas – principalmente no caso da VPR e depois da VAR-Palmares – de tirar os melhores elementos do trabalho no movimento de massas consumindo-os na dinâmica interna da organização"10 Ainda que seja um balanço parcial, não deixa de expressar o que significou a trágica experiência das guerrilhas.

A modo de conclusão
O novo m.e. que começa a ressurgir no cenário nacional ainda está muito longe de debater qual é o caráter da revolução brasileira; pelo contrário, está profundamente influenciado pela ideologia burguesa "democrática" e também autonomista que marcaram nossa geração. Tão grande é esse retrocesso que trataram de imputar essa ideologia da classe dominante nas universidades e escolas, de que a tragédia stalinista é também a tragédia do bolchevismo, e não a negação das lições da Revolução Russa. O combate aos preconceitos autonomistas no m.e. deve estar a serviço da construção de um partido revolucionário baseado na estratégia bolchevique, para que desta forma, frente a novos ascensos da luta de classes que estão por vir, possamos evitar tragédias semelhantes à que foi levado o movimento estudantil de 1968.
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1 Ver GORENDER, Jacob Combate nas Trevas.
2 Lei fascista que colocou a UNE e outras entidades na ilegalidade, daí a consigna "A UNE somos nós!".
3 MARTINS FILHO, João Roberto Movimento estudantil e ditadura militar (1964 – 1968), p.181.
4 Carta Política da UNE, set./67, Grêmio de Filosofia da USP.
5 MCD: Movimento Contra a Ditadura
6 Abaixo a ditadura, depoimento de Vladimir Palmeira, dirigente da DI-Guanabara, p.62.
7 Movimento estudantil e ditadura militar (1964 – 1968), p.176.
8 Cf. ALVES, J. R. A luta armada contra a ditadura militar, Ed. Fundação Perseu Abramo, p.62.
9 FREDERICO, Celso A esquerda e o movimento operário, Vol. I: A Resistência à ditadura, p.253.
10 Idem, p.235 e 239. Ibrahim foi membro da VPR e esteve entre aqueles que exilados em troca da libertação do embaixador norte-americano, junto com Vladimir Palmeira, José Dirceu e outros.
O rebelde acidental,
por Paul AusterPaul Auster*

Foi o ano dos anos, o ano da loucura, o ano de fogo, sangue e morte. Eu acabava de completar 21 e estava tão louco quanto todo mundo.Havia meio milhão de soldados americanos no Vietnã, Martin Luther King tinha sido assassinado, as cidades queimavam em toda a América e o mundo parecia rumar para a derrocada apocalíptica.Ser louco me parecia uma reação perfeitamente saudável para a mão que me haviam dado: as mesmas cartas que todos os rapazes receberam em 1968. No instante em que me formasse na faculdade, eu seria recrutado para lutar em uma guerra que eu desprezava no mais profundo do meu ser, e como já tinha decidido me recusar a lutar naquela guerra, sabia que meu futuro só apresentava duas opções: a prisão ou o exílio.Eu não era uma pessoa violenta. Revendo hoje aqueles dias, vejo-me um jovem tranqüilo, amante de livros, lutando para aprender a ser um escritor, mergulhado em meus cursos de literatura e filosofia em Columbia. Eu havia marchado em manifestações contra a guerra, mas não era um membro ativo de qualquer organização política no campus. Simpatizava com os objetivos do SDS (um dos vários grupos de estudantes radicais, mas de modo algum o mais radical), mas nunca fui a suas reuniões nem jamais distribuí um panfleto ou folheto. Eu queria ler meus livros, escrever meus poemas e beber com meus amigos no bar West End.Há 40 anos uma manifestação de protesto foi realizada no campus de Columbia. A questão não tinha nada a ver com a guerra, mas sim com um ginásio que a universidade ia construir no Morningside Park. O parque era propriedade pública, e como Columbia pretendia criar uma entrada separada para os moradores locais (na maioria negros), o projeto do edifício foi considerado injusto e racista. Eu concordava com essa avaliação, mas não fui à manifestação por causa do ginásio.Fui porque estava louco, louco com o veneno do Vietnã nos meus pulmões, e as centenas de estudantes que se reuniram ao redor do relógio de sol no centro do campus naquela tarde não estavam lá para protestar contra a construção do ginásio, e sim para ventilar sua loucura, para gritar contra alguma coisa, qualquer coisa, e como éramos todos alunos de Columbia, por que não atirar tijolos contra Columbia, já que ela estava envolvida em lucrativos projetos de pesquisa para empresas militares e assim contribuía para o esforço de guerra no Vietnã?Discursos tempestuosos se seguiram, a multidão irada rugia em aprovação, e então alguém sugeriu que fôssemos todos para o canteiro da obra e derrubássemos o alambrado que havia sido erguido para barrar os invasores. A multidão achou que era uma idéia excelente, e lá se foi a turba de estudantes loucos aos gritos, em disparada do campus de Columbia até o Morningside Park. Para minha grande surpresa, eu estava com eles. O que havia acontecido com o menino gentil que planejava passar o resto da vida sentado sozinho em um quarto escrevendo livros? Estava ajudando a derrubar a cerca. Ele puxou, empurrou e sacudiu, juntamente com dezenas de outros e, verdade seja dita, encontrou grande satisfação nesse ato louco e destrutivo.Depois dos tumultos no parque, os prédios do campus foram invadidos, ocupados e mantidos durante uma semana. Eu acabei no pavilhão de matemática e ali fiquei durante todo o "sit-in". Os estudantes de Columbia estavam em greve. Enquanto realizávamos calmamente nossas reuniões nos edifícios, lá fora o campus fervia com disputas beligerantes aos gritos e socos, enquanto os que eram a favor ou contra a greve se enfrentavam com abandono. Na noite de 30 de abril, a administração de Columbia se irritou e a polícia foi chamada. Seguiu-se uma rebelião sangrenta. Junto com outras 700 pessoas eu fui preso -puxado pelo cabelo até a perua da polícia por um oficial, enquanto outro pisava na minha mão com sua bota. Mas sem mágoas. Fiquei orgulhoso por ter feito o meu pouquinho pela causa. Ao mesmo tempo louco e orgulhoso.O que nós conseguimos? Não muita coisa. É verdade que o projeto do ginásio foi arquivado, mas a verdadeira questão era o Vietnã, e a guerra se arrastou por mais sete anos terríveis. Não se pode mudar a política do governo atacando uma instituição privada. Quando os estudantes franceses se insurgiram em maio daquele ano dos anos, estavam confrontando diretamente o governo nacional -porque suas universidades eram públicas, controladas pelo Ministério da Educação, e o que eles fizeram provocou mudanças na vida da França. Nós em Columbia éramos impotentes, e nossa pequena revolução não passou de um gesto simbólico. Mas gestos simbólicos não são gestos vazios, e, dada a natureza daqueles tempos, fizemos o possível.Eu hesito em traçar comparações com o presente -e portanto não terminarei este trecho de memória com a palavra "Iraque". Hoje tenho 61 anos, mas meu pensamento não mudou muito desde aquele ano de fogo e sangue, e sentado sozinho neste quarto com uma caneta na mão percebo que continuo louco, talvez mais louco que nunca.

*Paul Auster é o autor de "A Trilogia de Nova York", "O Inventor da Solidão", "Timbuktu", entre outros. "Man in the Dark", seu próximo livro, será lançado em breve. Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

MOVIMENTO A PLENOS PULMÕES
www.movplenospulmoe s.org / aplenos_pulmoes@ yahoo.com. br
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França:
em 2006 os estudantes derrotaram o Contrato de Primeiro Emprego com greves, ocupações e manifestações de massa.
agora, contra a reforma universitária de Sarkozy.....


ALIANÇA OPERÁRIO-ESTUDANTIL
decidem bloquear as ferrovias junto aos operários e apóiam suas demandas
AUTO-ORGANIZAÇÃ O
elegem delegados na base contra as direções burocráticas

e no Brasil????
depois da USP, Unesp, Unicamp, Fundação Santo André, PUC-SP, UFBA, UFRJ, UFPR, UFF, UFAL, UFJF, UFPE....
a reforma universitária segue sendo aplicada e retiram os direitos dos trabalhadores


CONSTRUIR UM ENCONTRO NACIONAL DE DELEGADOS DE BASE
para votar um programa que unifique os estudantes com os trabalhadores e o povo pobre!!!

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Nesse sábado, 24/11, participe... .

14:00
PLENÁRIA ABERTA DO
MOVIMENTO A PLENOS PULMÕES
15:00

Áudio-Conferência direto da França
com estudante brasileira da Universidade Paris VIII

21:00
FESTA!!
inauguração da nova Casa Socialista da Vila Madalena,
com música, comes e bebes....


Casa Socialista da Vila Madalena
Pça Américo Jacomino, 49 – em frente ao metrô Vila Madalena
3673-0531


França em chamas!


França em chamas!
por Felipe, letras USP
Jornal APP, no 7

A burguesia imperialista francesa vem tentando passar diversos ataques aos trabalhadores, retirando os antigos direitos conquistados com o chamado “Estado de Bem-Estar” numa tentativa de obter uma maior competitividade na economia internacional. Trata-se de uma necessidade da burguesia imperialista francesa, que o presidente Sarkozy de direita, que tem sido apontado como o “Sarkô, o americano”, graças à afinidade de suas políticas com as do reacionário Bush, já anunciou que buscará impor de todas as maneiras.
Porém, seus ataques não passarão sem uma resposta à altura do movimento de massas. Isso é o que tem mostrado a imensa greve dos funcionários públicos, cujos trabalhadores do transporte são a ponta de lança, que já há uma semana paralisa Paris. Desde que Sarkozy anunciou o ataque de aumentar o tempo de serviço destes setores de cerca de 37 anos para 40 anos, que os trabalhadores públicos do transporte, e cruzaram os braços. Até agora, apesar da tentativa da burocracia sindical traidora ligada ao PS e ao PC de negociar um pacto com o governo, a radicalização e coragem dos trabalhadores impediram este vergonhoso pacto. Este processo se soma à uma imensa mobilização estudantil contra a lei que abre as portas da universidade para o controle do capital privado. Hoje cerca de 43 universidades das 85 existentes contra os ataques á universidade e em apoio aos trabalhadores. Isso mostra a juventude e os trabalhadores franceses aprenderam uma valiosa lição: que quando tomam seus métodos históricos de luta podem derrotar o governo e seus ataques.

Os trabalhadores e a juventude se levantam

As Banlieues são subúrbios parisienses que comportam milhões de imigrantes, constantemente vítimas de preconceitos racial e religioso. Após a morte de dois jovens pela repressão policial, uma rebelião se alastrou por toda a periferia. Manifestantes queimaram centenas de carros em uma só noite. Mesmo representando 10% da população francesa, eles são condenados à pobreza, ao subemprego e à educação de segunda, além de serem tratados como delinqüentes, com constantes repressões policiais e ameaças de prisões e deportação. Essa foi a resposta da população encarcerada nos guetos aos ataques do então Ministro do Interior Nicolas Sarkozy, que acenou com mais repressão e declarou “Estado de Emergência Nacional”, enviando tropas de ocupação, prendendo 3.100 jovens e condenando 700 em “julgamentos de emergência”, nos quais não há direito de defesa.
Já a luta contra o CPE – lei que precarizava o trabalho dos jovens menores de 26 anos, que poderiam ser demitidos nos 2 primeiros anos de trabalho sem justificação e indenização - representou um grande avanço, levando às ruas milhões de pessoas em marchas que paralisaram a capital francesa. Organizados em uma coordenação nacional, os estudantes e em seguida os trabalhadores, apesar das manobras da burocracia sindical que queriam impedir que este entrasse em cena, travaram um grande embate com o governo conseguindo uma importante vitória com a revogação da referida lei. Mais uma vez, os ataques da burguesia francesa, por intermédio de Sarkozy sofreram forte resistência do movimento de massas.
Nas últimas eleições, Sarkozy venceu o segundo turno já anunciando o que seria o seu governo. Um de seus principais projetos é como gerar mais lucros para a burguesia francesa e nisto ele sabe que precisa atacar os trabalhadores. Trabalhem mais com menos direitos! Eis a grande reposta de Sarkozy!
Mas este ataque vem sendo respondidos pelos trabalhadores com mobilizações e greve que remonta a grande paralisação de 1995, quando uma greve no setor de transporte, também sobre o regime especial de aposentadorias, parou a França por três semanas, derrotando o plano de Juppé. Mas a resposta é uma forte greve em setores estratégicos como trens, ônibus e metrô –um dos setores mais importantes da classe operária francesa –, se confluindo com uma mobilização dos funcionários públicos – contra a supressão de 28.000 postos de trabalho e pelo aumento salarial, congelados há 7 anos. E ainda há as mobilizações do explosivo movimento estudantil, que tornam a atual mobilização potencialmente superior à greve de 95, contra a mesma tentativa de ataque, e à luta contra o CPE, haja vista toda experiência política forjada durante esses processos. As centrais sindicais pelegas como a CGT já se colocam na perspectiva de afundar o movimento, tentando negociar pelas costas dos trabalhadores, mas o movimento grevístico é forte e está conseguindo ultrapassar as barreiras de cada categoria e unificar as lutas na rua em massivas manifestações.
O movimento estudantil (ME), que se mobiliza hoje contra uma lei de caráter privatizante (LRU), se mostra não somente solidário “com moções de apoio” com a luta dos trabalhadores, mas na ação: a coordenação nacional de estudantes aprovou piquetes nas estações ferroviárias no sentido de ajudar os trabalhadores deste setor na paralisação. Outro fator interessante que já se transformou em patrimônio do ME francês, tanto por garantir a democracia do movimento quanto por conseguir uma atuação conjunta do movimento com “um só punho”, é a auto-organizaçã o dos que lutam, em que se votam delegados nas assembléias de base, levando estes as demandas de cada curso à coordenação, que se reúne periodicamente para organizar a mobilização. Esse método possibilitou que em apenas três semanas se armasse uma greve nacional de proporções inimagináveis.
Esse é o primeiro teste de forças de Sarkozy com o movimento de massas. Apesar de até setores da própria burguesia acharem que não seria interessante desferir tantos ataques ao mesmo tempo, o governo diz que não volta atrás nos pontos fundamentais, e tenta jogar a população contra os grevistas. Uma vitória do governo pode significar ataques de proporções históricas à classe trabalhadora. Mas a resistência do movimento de massas na luta, e uma possível vitória, pode abrir uma crise no governo superiores às do Maio de 68. Isso mostra que a classe operária não desapareceu, muito pelo contrário, volta a se reorganizar e se coloca com um potencial combativo sem igual.
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